quinta-feira, 10 de maio de 2018

SORRI. RECORDEI. VIVI.
Foto: Samuel Patrocínio

Todos os dias úteis e alguns não úteis, bem cedo pela manhã, pego no meu velho carro, companheiro de longos anos e metemo-nos à Estrada num total de 45 Kms. 45 Kms é a distância que medeia a minha casa, do meu local de trabalho. 45 para ir, mais 45 para vir. 

Nunca "apanhei" uma fila de trânsito, e o stress maior ocorre quando “apanho” um trator e/ou  máquina agrícola, ou um desvairado que julga que a estrada é a “parada” do seu monte. 

Não ando por terras de ninguém, mas quase. Apenas passo por 2 aldeias, e nem sequer é pelo seu centro.

Muito tempo para poder livremente pensar.

Hoje não foi diferente. 

Mal saí da  pequena cidade onde moro, liguei o turbo nos meus pensamentos mais íntimos, com a assessoria do som de fundo da Antena 1.  Percebi, pela rádio, que hoje era a quinta-feira da Ascensão. À velocidade da luz focalizei o cerne do meu pensamento na minha adolescência. 

Transportei-me para o meu Ribatejo. Emudeci-me na profundidade silenciosa mas agudamente lancinante da minha saudade.

Sorri, ao imaginar-me nessa mesma hora, a chegar aos “Olhos de Água”, nascente do meu Rio Alviela e encontrar rostos sem fim, de gente. Gente que outrora era a minha gente. Gente como eu.

Sei que essa gente, àquela mesma hora, cumpria, como sempre cumpriu, a tradição da gente de Alcanena. E, nos “Olhos de Água”, preparavam-se para em convívio fraternal passar o dia da Espiga, feriado Municipal da minha Alcanena.

E, dos “Olhos de Água” olhei para Este, e lá no fundo do Horizonte, bem no fundo, estava com sempre esteve e sempre continuará a estar o cabeço da Raposeira, com um pequeno ponto quase indecifrável, mas que é para mim um esteio de Luz. A casa onde me fiz gente. 

Com a Alma despedaçada cheguei ao meu destino.

Parei. 

Desliguei o meu companheiro. Ao Espelho observei o meu rosto. Não chorei. Sorri. Recordei. Vivi.  

1 comentário:

  1. Raramente, para não dizer nunca, uso a palavra recordar
    gosto muito mais de falar em memórias
    não sei se não será o mesmo
    mas usando "memórias" não faz sentido
    falar-se em saudosismo

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