quinta-feira, 23 de junho de 2011

NÓS E A CRISE

Cão sempre presente nas acções de rua na Grécia / Símbolo do descontentamento do povo Grego
Foto: retirada da internet/sem indicação do autor

I

Eis-nos em velocidade de descolagem, tendente a cumprimos com os objectivos assinados com a famigerada Troika.

Se até agora o consignado com o FMI/UE/BCE, ainda praticamente não tinha tido expressão, ao ponto de muitos Portugueses na sua santa ignorância (real ou propositada), pensarem que o acordo assinado, poucos reflexos iria ter na vida da generalidade dos concidadãos, vai a partir deste momento entrar num movimento ascendente vertical, com consequências imprevisíveis de contabilizar, inclusive para os próprios governantes.

Comungo da opinião do recém-empossado governo de que não podemos falhar. De facto não podemos falhar. Pergunto contudo, como não podemos falhar, e já para não complicar muito, quando nos são cobrados juros na ordem de 6%. Tem Portugal neste momento capacidade empresarial, que consiga produzir riqueza que possa suportar este valor de grandeza em juros, mais o necessário para abater divida? Não creio.

Encostado contra a parede, Portugal foi obrigado a ter de recorrer á ajuda externa, sobre pena de neste momento já termos entrado em bancarrota e estarmos fora do Euro. Porém, tenho para comigo, que os nossos governantes sabiam bem que este acordo mais tarde ou mais cedo teria de ser reformulado. Estavam à espera do falhanço da Grécia (que não vai conseguir cumprir com o estabelecido), para daqui a algum tempo, renegociarem condições mais vantajosas, apresentando como contrapartidas resultados positivos (assim julgavam).

Acontece contudo que a fragilidade económica das famílias e das empresas, vai inviabilizar continuar a ter-se resultados de natureza fiscal e produtiva, que permitam os resultados positivos necessários para forçar a uma boa renegociação futura.

II

Aquilo que os governantes portugueses pensaram e que não iria ter sucesso devido à enormíssima fragilidade económica das famílias e das empresas (é impossível continuar-se a pedir a quem já nada tem), vai deixar de fazer sentido porque a situação da Grécia, está incontrolada e, irá desmoronar-se. É apenas uma questão de tempo. A Grécia não reúne a robustez económica, social e política para enfrentar com sucesso a crise em que está envolta.

Ou a Grécia é rapidamente ajudada, com um perdão parcial ou mesmo total da divida, ou cai.

A cair, a Grécia irá contaminar outros países, incluindo Portugal, por muito que o nosso primeiro-ministro queira vender a ideia de que Portugal não é a Grécia.

III

Não preciso sequer de dar um argumento de suporte, para afirmar que a Europa, foi um império de barro, que está em desmoronamento. Tenta ainda, manter-se viva, mas toda a gente já viu que as colagem que faz, nem sequer têm a capacidade agregativa do cuspo. A Europa morreu.

A falta de uma política comum de responsabilidade e solidariedade europeia, levou a que a Alemanha (potência económica mais forte) se armasse num timoneiro de controle da Europa, que ao invés de construir um verdadeiro e sadio espírito europeu, absolutamente imprescindível para a sobrevivência da manutenção da Europa como centralidade mundial, incendiou com gasolina os rebentos da construção europeia do Senhor Kohl.

A Alemanha poderá continuar a ser uma potência económica, mas afastou de vez a Europa, da reorganização económica, que o mundo está a imprimir com a entrada em cenário de novas potências , principalmente da China e Índia. Urgia, que a Europa conseguisse bater-se de igual para igual com estas potências. Afastada do controle de decisão, a Europa e os seus povos vão empobrecer.

A Alemanha julga poder contornar por si esta situação e continuar a manter-se na ribalta do sucesso económico mundial. Vão-lhe sair as contas furadas e vai também, sofrer com esta decisão, porque sem parte da Europa, a Alemanha não vai conseguir os seus intentos.