domingo, 21 de novembro de 2010

A ESSÊNCIA DA TERRA

Foto: Samuel Ramos Patrocínio

Na verdade poucos serão aqueles, que alguma vez tenham pensado, perder a faculdade olfactiva, porém, todos nós já passamos por períodos em que devido a uma constipação, não temos o olfacto a “laboral”, com a normalidade a que diariamente estamos habituados.
Do que mais gosto pela manhã, é de sentir a “Essência do Campo”, ou seja os seus aromas, os cheiros que emanam do campo, e que, poderão parecer insignificantes, mas que são de grande riqueza dada a sua constante mutabilidade. Todos os dias, e até várias vezes durante o dia, os aromas do campo vão-se alterando, ora cheira a terra lavrada, a terra molhada porque choveu ou porque o Campo foi regado, a um rebanho de ovelhas que acabou de passar, ao florir do rosmaninho ou do alecrim, aos pinheiros que foram cortados para se retirar a seiva, à ceifa de um campo de cereais, à cozedura de pão no forno de uma quinta, a lenha queimada que sai das lareiras, enfim, a um sem número de cheiros que nos chega ao olfacto e, intuitivamente nos incorpora no espaço físico a que pertencemos. Perder o olfacto era perder, uma parte daquilo que somos e, neste caso específico perder a matricidade cultural a que pertencemos e à qual fomos moldados.

Depois, há os outros cheiros, os nossos cheiros, os cheiros dos nossos incensos, das nossas comidas, dos nossos animais, da nossa casa e das vizinhos e os cheiros que vamos detectando ao longo do dia. Sentiria a sua falta se perdesse o olfacto. Sentir-me-ia perdido e desorientado, pois o olfacto, é também uma forma de comunicação. A cada cheiro, não preciso de ver imagens, para percepcionar o que está a acontecer. Por exemplo, se cheirar a gás, sei que tenho de agir, pois algo de mal poderá acontecer. Se cheirar a pão acabado de cozer, eu já sei que posso ir à padaria, isto não falando já, do efeito que os aromas de cariz medicinal têm sobre o nosso cérebro e das reacções que induzem.

E, há ainda cheiros que não me importava nada de perder, o cheiro do tubo de escape libertado pelo autocarro que tenho de ultrapassar todos os dias, que me deixa mais morto que vivo, o cheiro a herbicida, a adubos e outros químicos, que paulatinamente vão “substituindo as Essências do meu Campo.”

6 comentários:

  1. Meu amigo.
    Em primeiro lugar parabéns pela excelente fotografia.
    O olfacto para mim também é fundamental, até porque tenho outro sentido limitado, a audição, que o meu olfacto apurado compensa.
    Infelizmente não tenho a sorte de viver no campo e sentir esses cheiros característicos.
    Há cheiros que associo à minha infância,há cheiros que me fazem sonhar.
    Mas claro que há também há cheiros que nos causam repulsa.
    Um texto muito sensível e que... cheira tão bem :-)

    Beijinhos

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  2. E a saudade que tenho do cheiro do mar...
    carla.

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  3. Bonito texto.
    Parabéns.
    stc

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  4. Gostei, meu caro, gostei
    Mas fez uma estranha omissão
    não falou deste cheiro a esturro
    que aperta a nossa nação...

    Entretanto, tenho uma oferta para si e para todos os que escreveram no conto colectivo da Fê...
    Isso mesmo, para todos os intervenientes
    (acho que vão ficar contentes)

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  5. Meu amigo:
    Obrigada pelo seu apoio, sei que está sempre presente.
    Que tal achou o nosso conto? E a árvore está linda!!!
    O amigo Rogério é um homem extraordinário também.

    Beijinhos e bom fim de semana

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  6. Amigo Samnio:
    Como vou estar ausente por uns dias, afazeres de Natal ;-) Aproveito para desejar um Natal cheio de Saúde, Amor e Paz para si e para os seus familiares.
    Beijinhos amigos

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