SORRI. RECORDEI. VIVI.
Foto: Samuel Patrocínio
Todos os dias úteis e
alguns não úteis, bem cedo pela manhã, pego no meu velho carro, companheiro de
longos anos e metemo-nos à Estrada num total de 45 Kms. 45 Kms é a distância
que medeia a minha casa, do meu local de trabalho. 45 para ir, mais 45 para
vir.
Nunca "apanhei" uma fila
de trânsito, e o stress maior ocorre quando “apanho” um trator e/ou máquina
agrícola, ou um desvairado que julga que a estrada é a “parada” do seu monte.
Não ando por terras de
ninguém, mas quase. Apenas passo por 2 aldeias, e nem sequer é pelo seu centro.
Muito tempo para poder
livremente pensar.
Hoje não foi diferente.
Mal saí da pequena cidade onde moro, liguei o turbo nos
meus pensamentos mais íntimos, com a assessoria do som de fundo da Antena 1. Percebi, pela rádio, que hoje era a
quinta-feira da Ascensão. À velocidade da luz focalizei o cerne do meu pensamento
na minha adolescência.
Transportei-me para o
meu Ribatejo. Emudeci-me na profundidade silenciosa mas agudamente lancinante
da minha saudade.
Sorri, ao imaginar-me
nessa mesma hora, a chegar aos “Olhos de Água”, nascente do meu Rio Alviela e
encontrar rostos sem fim, de gente. Gente que outrora era a minha gente. Gente
como eu.
Sei que essa gente, àquela
mesma hora, cumpria, como sempre cumpriu, a tradição da gente de Alcanena. E,
nos “Olhos de Água”, preparavam-se para em convívio fraternal passar o dia da
Espiga, feriado Municipal da minha Alcanena.
E, dos “Olhos de Água”
olhei para Este, e lá no fundo do Horizonte, bem no fundo, estava com sempre
esteve e sempre continuará a estar o cabeço da Raposeira, com um pequeno ponto
quase indecifrável, mas que é para mim um esteio de Luz. A casa onde me fiz
gente.
Com a Alma despedaçada
cheguei ao meu destino.
Parei.
Desliguei o meu
companheiro. Ao Espelho observei o meu rosto. Não chorei. Sorri. Recordei.
Vivi.
Raramente, para não dizer nunca, uso a palavra recordar
ResponderEliminargosto muito mais de falar em memórias
não sei se não será o mesmo
mas usando "memórias" não faz sentido
falar-se em saudosismo