VENHAM VIVER PARA O INTERIOR DE PORTUGAL
Foto: Samuel R. Patrocínio
O que tem acontecido em
Portugal nos últimos temos é demasiadamente mau , para que tenha vontade de
escrever sobre o tema.
Naturalmente que me estou a
referir à incapacidade do Estado Português, em fazer a defesa dos seus
cidadãos.
As discussões já são mais
que muitas, algumas ilações políticas já foram tiradas, medidas apressadas
foram tomadas, e toda a gente espera que no próximo ano, nada de igual se venha
a repetir.
Muito se tem falado da
incompetência do governo. Que existiu; do desordenamento florestal. Que existe;
e de muitas outras coisas que são verdade.
Infelizmente não tenho
ouvido falar muito da existência de duas realidades díspares de um Portugal
dividido em dois longitudinalmente. O Interior e o Litoral.
Politicamente o Portugal
Interior, não conta para Lisboa. Não tem gente, não tem votos. Não tem votos,
não influência as dinâmicas políticas. Então podem-se fechar escolas, postos
dos correios, centros de saúde, etc, etc, etc.
Dou o Exemplo do Distrito de
Beja. Apenas e só o maior distrito de Portugal, que se estende transversalmente
da fronteira com Espanha ao Atlântico. Sabem quantos deputados elege?
Eu digo.
Três, sim leu bem (3) três
deputados.
O distrito de Évora, elege igualmente três
deputados e o distrito de Portalegre, dois deputado.
Vamos a contas, um terço
(1/3) do país elege 8 (oito) deputados em 230 (duzentos e trinta). Que força
política têm estes homens e mulheres nos seus partidos e no conjunto do
parlamento?
O mesmo acontece com os
restantes distritos do interior. 70 a 80% do território português não deverá
valer mais do que 30% do peso político nacional.
Sem peso político, não há pressão. Não há pressão, não há
investimentos. Não há investimentos . Há cada vez menos gente. Foi-se
esvaziando o país. As aldeias estão na sua maioria desertas e a população que
vai resistindo, dois terço, são idosos.
Menos gente, menos peso
político, menos massa de reivindicação, em suma , esquecimento político. Em
suma das sumas Portugueses de segunda ou de terceira, ou de quarta, enfim….
Estas tragédias apenas
vieram confirmar o abandono que há muito começou para com as populações do Interior
do país.
Voltando ao distrito de
Beja, e colocando a situação no meu caso particular. Todos os dias faço 55 Km
para ir trabalhar (ir e vir, 110km). Todos os dias tenho de ir de carro. Todos
os meses gasto uma fortuna em combustíveis. Perguntam-me vocês? e porque se está a
lamentar? vá de transportes públicos, fica mais barato. E têm razão. Mas a
vossa razão é igual ao desconhecimento da realidade do Interior do país. Não
tenho alternativa. Não há transportes públicos, nem mesmo a designada
"carreira”. Absolutamente nada.
E vejam a injustiça dos políticos
deste país. Os Habitantes das áreas metropolitanas, que utilizam os transportes
públicos, têm o direito a deduzir no E-fatura , um determinado valor. Não
interessa o montante.
Interessa apenas a igualdade
de critérios. Porque razão os habitantes do interior do país onde
manifestamente se verifique não existir transportes públicos, não têm o mesmo
direito sobre os combustíveis gastos. Nem que isso representasse apenas,
cêntimos. Por aqui se vê os portugueses de primeira e de segunda.
Para os muitos do Litoral
que argumentam que é bom viver no Interior, façam um favor ao país, venham
viver para o Interior, que o Interior está de braços abertos para vos receber…
não sei é se resistirão após a primeira necessidade de se deslocarem a um
hospital. Dou o exemplo da população de
Barrancos, que tem de andar mais de 120km (ir e vir, 240km), para ir ao
hospital de Beja.
Venham viver para o
Interior, o Alentejo e o Interior do país espera-vos. Uma coisa é a realidade
diária, outra bem diferente é o romantismo de um fim de semana.
Quanto aos políticos, e como
bem diz o Presidente da República, está na altura de conhecerem realmente o
país que governam.
Não fora a tenacidade e
irreverência dos autarcas do Interior e há muito que Portugal se resumiria à
faixa Litoral, para apanhar sol e tomar um banhinho de mar.